quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Ontem eu chorei duas vezes, por motivos distintos, mas nem tanto

Estava acompanhando a CPI da COVID e no meio de uma das discussões saem os congressistas bolsominions para dizer que a vacinação tá acontecendo "graças" ao Genocida. O fundo do poço é tão grande que Renan Calheiros é um dos sensatos, no mesmo time de Randolfe ❤, para explicar os atrasos, as mortes etc etc.

Eu perdi um primo existindo vacina disponível e o pai de um outro primo morreu recusando a vacina. Ver aquela cena de uma pessoa que torra nosso dinheiro público legalmente (mas imoralmente) me causou uma náusea. Desliguei a transmissão e chorei.

Na segunda vez, volto a anteontem. Minha mãe sofreu uma queda e machucou o dedo mindinho da mão esquerda. Teimosa como ela é, enrolou sem buscar atendimento e após certa insistência minha ela foi ontem para a UPA #VivaoSUS. Após ser atendida, foi dito que ela teria que ser submetida a uma cirurgia, mas ainda ia passar por uma avaliação do especialista. Ela não tem parte dos movimentos da mão direita devido a uma queda de moto há cerca de 10 anos e naquela situação senti sua aflição em pensar que teria alguma sequela na mão esquerda. Fiquei muito aflito junto. No desenrolar da história, ela precisaria de uma acompanhante, mas decidiu recusar a ajuda de uma tia que tomou apenas uma dose da vacina. Detalhe: sem acompanhante ela corria o risco de não ser atendida no hospital para onde teria que ser transferida. Eu desabei  no choro pela segunda vez: minha mãe no hospital escolhendo entre perder o atendimento e ter sua saúde prejudicada ou expor minha tia a uma situação que levou dois entes muito próximos e outros tantos próximos também (mas sem laços de sangue).

Eu estou com uma raiva de vocês bolsonaristas... Talvez mais do que do próprio genocida. O gado que é parente com sobrenome Costa Lima? Raiva em dobro. E muita angústia, aflição.

Graças à terapia eu sei que não existe sentimento que não deve ser sentido (obrigado, Aline). A gente sente tudo e trabalha. Falei isso na sessão de hoje.

Fodam-se.

quinta-feira, 7 de março de 2019

Se partires um dia rumo à Ítaca

Postagem de abertura... Recebi esse poema (??) em 2014 quando saí de Recife para Brasília. Obrigado, minha querida amiga Eliana!


Se partires um dia rumo à Ítaca 
Faz votos de que o caminho seja longo 
repleto de aventuras, repleto de saber. 
Nem lestrigões, nem ciclopes, 
nem o colérico Posidon te intimidem! 
Eles no teu caminho jamais encontrarás 
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito. tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes 
Nem o bravio Posidon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti. 
Faz votos de que o caminho seja longo. 
Numerosas serão as manhãs de verão 
Nas quais com que prazer, com que alegria 
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto 
Para correr as lojas dos fenícios 
e belas mercancias adquirir. 
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos 
E perfumes sensuais de toda espécie 
Quanto houver de aromas deleitosos. 
A muitas cidades do Egito peregrinas 
Para aprender, para aprender dos doutos. 
Tem todo o tempo ítaca na mente. 
Estás predestinado a ali chegar. 
Mas, não apresses a viagem nunca. 
Melhor muitos anos levares de jornada 
E fundeares na ilha velho enfim. 
Rico de quanto ganhaste no caminho 
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse. 
Uma bela viagem deu-te Ítaca. 
Sem ela não te ponhas a caminho. 
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te. 
Ítaca não te iludiu 
Se a achas pobre. 
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência. 
E, agora, sabes o que significam Ítacas. 


Constantino Kabvafis (1863-1933)
in: O Quarteto de Alexandria - trad. José Paulo Paz.